Pense rápido, você conhece alguma cerveja feita especialmente para mulheres?
Provavelmente não. E você está certo porque ela não existe mesmo. Pelo menos até agora.
Por mais que o consumo de cerveja por parte das mulheres represente um percentual menor que o dos homens (eles consomem cinco vezes mais que as mulheres segundo o IBGE) elas são a maioria no ponto-de-venda e ainda influenciam a escolha de amigos, namorados ou familiares. Então, porque a publicidade brasileira ainda tende a descartar esse importante público?
O mercado brasileiro de cervejas se acostumou em vender esse produto com uma fórmula bastante clichê e até pobre no sentido criativo de campanhas publicitárias. Nesse sentido, a imagem de mulheres seminuas, que se comportam de forma submissa e são a recompensa a quem consume a tal cerveja à venda, foi utilizada à exaustão. Foi ou ainda é? Na maior parte dos comerciais, as mulheres nunca são as consumidoras, isto é, aquelas que estão sentadas na mesa do bar com um grupo de amigos e bebendo uma cerveja.
De acordo com Pierre Bourdieu, para se compreender a dominação masculina é importante analisar as estruturas inscritas na objetividade e na subjetividade dos corpos. Estas estruturas inscrevem nos corpos dos sujeitos dominados, determinados gestos, posturas, disposições ou marcas da sua submissão. Os corpos podem e só existem no mundo social quando inseridos na cultura, deixando de ter um aspecto físico para assumir um significado cultural. Então, analisando os comerciais de cerveja, a maioria das mulheres aparece servindo a cerveja ao homem, e não é só esse sentido, mas também o sentido sexual. Elas estão seminuas e exibindo seus corpos maravilhosos. Assim, isso reafirma a injusta percepção que a mulher tem que ser ‘gostosa’ e submissa para agradar ao homem.
Segundo pesquisa do site Bolsa de Mulher realizada com 2.815 mulheres entre 25 – 50 anos de idade, 47% delas consomem bebida alcoólica, sendo que 88% dessas mulheres bebem cerveja. A cerveja é a 2º bebida preferida, só perdendo para o vinho. A maioria delas reconheceu que a publicidade de cervejas é machista e deveria ser diferente para agradar o público feminino. No entanto, mesmo reconhecendo que não existe publicidade de cervejas para elas, não deixam de consumi-las. E ainda, grande parte delas não se mostra insatisfeita por não ter uma campanha publicitária de cerveja especialmente para mulheres, mas que experimentariam uma cerveja assim, se seguisse sua ordem de preferência (clara, mais leve e com baixa caloria), e ainda pagariam um preço justo por isso. Além disso, elas apontaram a Skol como sendo a marca que apresenta as melhores propagandas.
Dessa forma, por mais que as mulheres ainda sejam utilizadas como objetos nas propagandas de cervejas, vemos que isso está mudando, e é uma tendência mundial. A Skol, por exemplo, tem investido em campanhas cujo tema é a amizade, o bom humor. Já a Stella Artois, uma marca Premium da Ambev, vem inserindo a mulher como consumidora da cerveja em seus comerciais. Em “A sofisticação do ritual” a peça traça um paralelo entre dois rituais: o de preparação de uma mulher antes de sair à noite e a arte de tirar um chope da marca. É um comercial cujo público principal a ser atingido é o feminino, ou seja, mulheres que se sentem sofisticadas e belas bebem a cerveja Stella Artois. Por mais que a mulher ainda mostre um lado sensual, isso é feito de forma sutil e não de forma vulgarizada e passando a mensagem de que o papel da mulher é servir ao homem.
Então, observando o desempenho da Skol, ela é a terceira cerveja mais vendida no mundo de acordo com a revista Superinteressante, vemos que os comerciais de cerveja não precisam explorar a figura feminina para vender. Uma boa história muito bem contada rende muito mais do que uma simples fórmula clichê e ultrapassada, que subestima a inteligência dos consumidores e consumidoras.
Bibliografia:
BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
IBGE